Educar com Amor e Liberdade: Como o Meu Filho Me Ensinou que o Não Também é Amor

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O dia em que o meu filho me disse que não.
E eu soube que a minha linhagem tinha mudado.

E tu? Quando foi a primeira vez que disseste “não” e sentiste medo de deixar de ser amad@?

Houve um momento silencioso, aparentemente simples, que mudou tudo dentro de mim.

O meu filho disse-me não.

Será que já permitiste a alguém que te dissesse “não” sem te sentires rejeitad@?

Ele tinha 11 ou 12 anos. Era fim de semana. Estava exausto dos treinos da semana. E eu, numa fase desafiante e intensa da minha vida, estava a renovar a casa que acabara de comprar.

Precisava de ajuda para carregar tijolos e sacos de cimento pesados. Estava sozinha, como tantas vezes estive. E ele sabia disso. Sendo rapaz, filho de uma mãe solteira, carrega um instinto protetor que vai muito para além da idade.

E, ainda assim, naquele dia, olhou para mim e disse:

“Não quero, mãe. Estou cansado. Hoje não.”

Não foi um não agressivo. Não foi ingratidão. Foi um não autêntico, respeitoso, verdadeiro. E o mais importante: foi um não dito com confiança de que o amor entre nós não estava em causa.

E quando o meu filho me disse não…foi a confirmação cósmica de que o meu caminho valeu a pena.

Porque naquele instante: Eu fui o útero onde o “não” foi seguro. Eu fui o amor que não pede obediência – pede verdade.

Esse momento foi um dos símbolos da minha missão:

Curar a ferida de quem cresceu a confundir amor com utilidade.
E semeá-lo através de novas gerações que sabem amar sem se anular.

“Hoje, sou livre porque já não preciso que me escolham.
E sou mãe verdadeira porque o meu filho não precisa deixar de ser ele para ser meu.”

Quantas vezes confundiste amor com obrigação? Com necessidade de ser útil? E quantas vezes disseste “sim” apenas para não perderes a conexão com quem mais querias?

Durante grande parte da minha vida, o “não” foi proibido.
Não se dizia não aos nossos pais, à família, aos que nos criaram. Porque o “não” era recebido como traição. Como ingratidão. Como ofensa.

As raras vezes que ousei dizê-lo, paguei um preço alto: abuso físico, humilhação, silêncios longos e castigos emocionais que duraram anos. Aprendi que o amor era condicional. E que para ser aceite, tinha de ser útil. Submissa. Sempre pronta.

Que parte tua ainda acredita que, para merecer amor, tem de dizer sim a tudo? E se essa parte apenas estivesse a proteger-te de voltares a ser invisível?. E que para ser aceita, tinha de ser útil. Submissa. Sempre pronta.

Essa é a base de muitos sistemas de apego inseguro, como descrito no livro Attached, de Amir Levine e Rachel Heller, onde aprendemos a moldar-nos para garantir vínculo: agradar, adaptar-nos, estar sempre disponíveis — mesmo que isso nos quebre por dentro. E as feridas que Lisa Bourbeau descreve (humilhação, traição, abandono, rejeição e injustiça) são a base emocional que sustenta essa dinâmica. Tornamo-nos especialistas em sobreviver ao amor, mas incapazes de o receber em verdade.

E, por isso, este momento com o meu filho foi um rito de passagem silencioso. Porque quando ensinamos a uma criança que ela pode dizer não, sem perder o nosso amor, estamos a ensinar-lhe a coisa mais rara e valiosa deste mundo:

Que a verdade interna vale mais do que a obediência.

Outros exemplos diários que podem parecer banais, mas escondem este dilema ancestral:

  • Quando uma criança diz que não quer dar um beijo a um adulto e os pais insistem: “Vai lá, ele vai ficar triste!” — isto reforça o medo de rejeição e mina o direito ao próprio limite (ferida da rejeição, apego ansioso).
  • Quando um adolescente não quer partilhar algo e é rotulado como “fechado” ou “mal-educado” — reforça a ideia de que a vulnerabilidade tem de estar sempre disponível para validação externa (ferida da injustiça, apego evitante).
  • Quando uma mulher sente que não pode dizer não sem ser chamada de fria ou ingrata — ativa a ferida da traição e empurra-a para um papel de agradadora compulsiva (apego ansioso ou desorganizado).
  • Quando alguém diz estar cansado e é acusado de preguiça ou desinteresse — mina a escuta do próprio corpo (ferida da humilhação).
  • Quando uma criança sente que tem de “ser forte para a mãe” — aprende que o amor exige sacrifício (ferida do abandono).

Todos estes momentos mostram como é difícil manter o próprio centro num mundo que nos ensinou a ser aceites, não a ser verdadeiros.

Que relação tens com os teus limites hoje? O teu “não” é escutado, ignorado ou punido?

E tu, consegues dizer “não” sem medo? O teu corpo confia que pode ser amado mesmo quando se escolhe?

Vivemos num mundo que nos ensinou a ser aceites e não a ser verdadeiros. Que programou o nosso sistema emocional para sobreviver e não para se expressar com autenticidade.

Por isso, quando acompanho alguém numa sessão, não estou apenas a interpretar mapas ou estruturas.
Estou a ajudar a pessoa a lembrar-se de que pode dizer sim sem medo, e não sem culpa.

Se sentiste este texto no teu corpo, partilha-o.
Não porque eu o escrevi. Mas porque há muitas almas lá fora que ainda acreditam que para serem amadas têm de dizer sempre que sim.

E se quiseres sentir o que é ser recebid@ com verdade e espelhad@ sem medo, marca uma sessão comigo.

Com amor,
Neuza

http://www.neuzacoach.com

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